David Bowie: O camaleão morreu aos 69 anos

11 janeiro 2016

O cantor britânico morreu aos 69 anos. Tinha acabado de lançar o seu novo álbum, “Blackstar”, e deixa para a história uma carreira com mais de 40 anos que revolucionou a música.

A notícia foi confirmada na página oficial de Facebook do cantor e apanhou o mundo de surpresa na madrugada desta segunda-feira. “David Bowie morreu em paz rodeado pela sua família depois de uma luta corajosa de 18 meses contra um cancro”, pode ler-se no comunicado deixado pela família na rede social que acrescenta ainda “ainda que muitos de vós partilhem connosco esta perda, pedimos que respeitem a privacidade da família durante este período de luto”.

Bowie iniciou o percurso discográfico em 1967, no álbum de estreia homónimo, e apenas cinco anos depois editou um dos seus discos de referência, o quinto, “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars” (1972). O registo viu nascer o seu alter-ego Ziggy Stardust, o primeiro de muitos, e centrou-se nas experiências desta estrela de rock imaginária, conjugando reflexões sobre a sociedade do seu tempo, da política à sexualidade, e alusões à ficção científica.

A carreira do britânico ofereceu à música canções tão memoráveis como “Ashes to Ashes”, “Heroes”, “Let’s Dance” ou “Under Pressure” (ao lado dos Queen) e o seu percurso deu-lhe o estatuto de artista mais camaleónico do mundo, abrindo caminho para nomes tão diferentes como Roxy Music, Duran Duran, Madonna, Pet Shop Boys, Soft Cell, Suede, Marilyn Manson, Placebo ou Lady Gaga, entre inúmeros outros. Ao longo de toda a sua carreira terá vendido mais de 140 milhões de álbuns.

No cinema também teve um percurso relevante, com participações em “Feliz Natal, Mr. Lawrence”, de Nagisa Ôshima, ou “Labirinto”, de Jim Henson, reforçando o interesse por figuras e situações atípicas.

Bowie tinha acabado de editar o 25ª álbum da sua carreira, “Blackstar”, a 8 de janeiro, o dia do seu 69º aniversário.

Há três anos, também no seu dia de aniversário, era lançada “Where Are We Now?”, canção sóbria e meditativa escolhida para acabar com os muitos anos de silêncio, reacendendo a chama que alguns consideravam quase apagada.

Dois meses depois, um álbum de perfil rock, “The Next Day”, confirmou o regresso em grande forma do artista das mil faces que permaneceu em silêncio por alguns anos, mas que foi celebrado com uma exposição itinerante que alcançou, em 2015, o milionésimo visitante durante a passagem por Paris.

Desde então, o londrino tinha-se dedicado a vários projetos, como bandas sonoras, comédia musical e algumas participações pontuais, como no último álbum dos Arcade Fire.

Bowie sempre gostou de experimentar coisas novas, o que o levou até ao jazz: o 25º álbum, sob o signo de uma estrela preta misteriosa (“Blackstar”), é atravessado por baterias epilépticas, fluxos e explosões de saxofone (o primeiro instrumento de Bowie) e uma voz de veludo,  espalhando ora doçura, ora ansiedade.

O cantor tinha prazer em esticar e desconstruir as próprias canções, sem dar importância aos supostos limites de três ou quatro minutos do formato normal da canção pop-rock. Esse gosto pelo desvio da norma foi tão ou mais forte na imagem, de personas como Alladin Sane ou Thin White Duke a um desafio pela experimentação também visível em muitos dos seus videoclips. Ainda assim, o cantor não fica como um caso em que a imagem se sobrepôs à música, com o muito bem acolhido “Blackstar” a registar mais um momento que o prova. E também aí a mostrar um Bowie surpreendente, agora pelos piores motivos: ninguém esperava que fosse o último.

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