Rock in Rio Lisboa: o funk chegou à cidade com Anitta e Bruno Mars
De uma tarde com funk carioca ao final de noite ao som de “Uptown Funk”, Anitta e Bruno Mars foram os maiores responsáveis pela corrida de 85 mil espectadores à Cidade do Rock, no Parque da Bela Vista, este domingo.
Quase sempre acompanhado de uma banda na qual os sopros se evidenciaram, Bruno Mars fechou o segundo dia do Rock in Rio 2018 com uma atuação onde, durante cerca de hora e meia, pôs boa parte do público a dançar.
Essa foi, aliás, a tendência de um domingo que contou com Demi Lovato, Anitta e Agir num Palco Mundo que ficou repleto logo ao final da tarde. Mas terá sido Mars a conseguir os maiores momentos de comunhão regular entre o palco e o público, numa atuação que arrancou com “Finesse” e “24 Magic” e percorreu os três álbuns do artista havaiano.
Além da música, para a festa contribuiu a dose generosa de fogo de artifício que foi condimentando a atuação. Já o palco parecia chamar todas as atenções para Mars e os seus músicos, que se movimentaram com desenvoltura entre o funk, r&b, soul, pop ou rock.
O público acompanhou-os sempre, com especial adesão no desfile de êxitos que dominou o final do alinhamento, num disparo que contou o romantismo de “Marry You”, a pujança de “Runaway Baby”, a serenidade de “When I Was Your Man”, o contagio enérgico de “Locked Out of Heaven” e um último momento de descompressão em “Just The Way You Are”.
Mars, complementado pela banda ou sozinho, ao piano, moldou-se à mudança de velocidades recorrente e voltou a colocar o pé no acelerador para o final, em “Uptown Funk”, canção de Mark Ronson na qual soltou, talvez como nunca antes, a sua faceta mais gingona. E confirmou que a Cidade do Rock se rendeu mesmo ao funk este domingo.
Veja na galeria de fotos as imagens dos concertos deste domingo (Bruno Mars não permitiu fotógrafos na frente de palco):
Demi Lovato entre a explosão e a sobriedade
Com dois dos seus temas mais populares a abrir – “Confident” e sobretudo “Heart Attack” -, Demi Lovato estreou-se em Portugal num Palco Mundo cujo recinto já dava provas de ser este o dia mais concorrido do Rock in Rio Lisboa 2018 – e com uma predominância de pais e filho/as entre o público.
Aplaudida por milhares de adolescentes, a norte-americana protagonizou uma atuação eclética, entre a pop dançável, um rock musculado e temperos latinos, revisitando uma discografia que conta já com seis álbuns – o mais recente, “Tell Me You Love Me”, foi editado no final do ano passado.
Se não faltaram momentos enérgicos e eufóricos, com convites à dança prontamente aceites por uma fatia considerável dos espectadores – e com a cantora a dançar perto de bailarinos em tronco nu -, para o final Lovato deixou um dos momentos mais intimistas (ou com o intimismo possível num espetáculo destes contornos) ao atuar sozinha ao piano, em “Sober”. A canção, uma das mais melancólicas do alinhamento, dispensou companhia e adereços em palco mas convocou luzes de telemóveis por todo o recinto, com a profusão de braços no ar a confirmar a boa primeira impressão geral desta estreia.
Anitta: o que é que a malandra tem?
“Nunca me senti tão bem recebida num lugar como aqui”, confessou Anitta ao público que preenchia todo o recinto do Palco Mundo, na sua estreia em Portugal.
A declaração terá marcado o episódio mais emotivo de um espetáculo que levou o funk carioca à Cidade do Rock, particularidade que a brasileira de 25 anos também assinalou. “É um dia histórico para os funkeiros do Brasil”, sublinhou, mostrando-se orgulhosa por poder representá-los, sendo aliás o rosto mais visível de um fenómeno cuja expressão tem crescido fora de portas.
“Quando comecei a cantar ninguém acreditou que eu ia ser cantora”, revelou também no momento em que mais se dirigiu ao fãs ao longo de uma atuação quase sem pausas entre as canções.
Da homenagem inicial a Carmen Miranda a uma despedida com “Funk you” inscrito no fundo do palco, passando por uma breve revisitação do clássico “Garota de Ipanema”, Anitta aliou sonoridades brasileiras (não só o funk carioca mas também a música sertaneja) a contaminações do r&b, hip-hop, reggae ou reggaeton.
A acompanhá-la, além de uma banda, estiveram dezenas de bailarinos, que tiveram oportunidade de protagonizar uma sequência de dança, mais para o final, quando Anitta aproveitou para trocar de indumentária – interlúdio que arrancou com um sample de “Lambada” e aludiu mais diretamente à cultura brasileira.
“Sua Cara”, dos Major Lazer, e “Show das Poderosas” foram os trunfos guardados para a despedida, talvez os maiores da carreira de Anitta, uma hipótese que a reação do público não desmentiu – dos movimentos aos gritos de entusiasmo que se disseminaram pelo recinto. Mas a resposta a canções que se ouviram antes, como “Paradinha”, “Essa Mina é Louca”, “Romance com Safadeza” ou uma versão de “Fantasy”, de Mariah Carey, deixaram no ar que esta visita a Portugal dificilmente terá sido a última.
Agir e uma atuação com coração
Passava pouco das 18h00, mas o recinto parecia estar tão concorrido como o de uma atuação de um cabeça de cartaz. Ao abrir o Palco Mundo, Agir teve direito a casa praticamente cheia ao apresentar canções como “Estou Bem” ou “Toda a Gente Olha”, num concerto que se moveu entre um registo baladeiro, caso de “Até ao Fim”, e mais ritmado, como em “Make Up”, num dueto com a brasileira Manu Gavassi. Carolina Deslandes também foi outra das convidadas do concerto, em “Mountains”.
Num e noutro caso, mas sobretudo nos momentos mais dinâmicos, a sua música mostrou a influência da produção de algum hip-hop e r&b norte-americano atual, devidamente abraçada por um público que se revelou conhecedor de grande parte das letras. Não faltaram alguns dos seus temas mais populares, como “Make Up”, vincada pela dança de cerca de uma dezena de bailarinos em palco, ou “Minha Flor”, na qual Agir cantou ao lado de um coro.
“Apesar deste aspeto, sou um sentimentalão”, confessou. “Vocês mudaram a minha vida”, declarou ao público antes de convidar Diogo a palco. “Não, não é o Diogo Piçarra”, sublinhou, lembrando o artista que atuou no passado sábado no mesmo espaço da Cidade do Rock, no Parque da Bela Vista.
Quem se juntou ao cantor foi antes um fã, saído das primeiras filas do público, juntamente com a companheira, a quem pediu em casamento, ajoelhado, perante milhares de espectadores. A resposta foi positiva e o alvoroço em resposta ficou entre os episódios mais ovacionados da tarde. “Viva os noivos!”, gritou Agir. E foi em clima de festa que a atuação terminou, com “Parte-me o Pescoço” e “Tempo É Dinheiro”, numa despedida que incluiu chuva de confetti.