Rock in Rio: Motor da máquina já é meio português
O Rock in Rio é visto como um evento brasileiro, mas na verdade já é metade português, com tantos profissionais nacionais como estrangeiros a gerir uma máquina que move milhões de euros.
Este ano a assinalar os 30 anos e com eventos nos Estados Unidos e em Espanha (e brevemente na Argentina), além de Portugal e no Brasil, para onde se desloca o Rock in Rio seguem dezenas de portugueses, alguns em lugares de topo na organização como Ricardo Acto, diretor de operações, em Lisboa ou no Rio de Janeiro, em Madrid ou em Las Vegas.
“Comecei em 2006 como assistente de engenharia”, diz à Lusa, falando a seguir de homens e mulheres, de fornecedores, de cenógrafos, de construtores, dos portugueses que constroem as “cidades do rock”, os seus palcos e as suas “rock street”, uma em lisboa mas três em Las Vegas e duas em Buenos Aires.
Em resumo, diz Ricardo Acto, o Brasil está mais presente na área criativa e Portugal na operacional. “Os portugueses têm um espírito de desenrasca, capacidade para se adaptarem, de dar um jeito, e isso é uma mais-valia muito grande, como também a facilidade na língua”, conta o responsável, lembrando também que as tecnologias de informação são desenvolvidas por portugueses.
O Rock in Rio, que começa esta semana em Lisboa, afirma-se como o maior evento de música e entretenimento do mundo. Começou no Rio de Janeiro e já aconteceu 16 vezes, juntando 8,2 milhões de espetadores em quase 1.500 atuações musicais. E criando ao longo das 16 edições 173 mil empregos e investindo 24 milhões de euros em causas sociais e ambientais.
Não admira, como diz Ricardo Acto, que muitas empresas procurem o Rock in Rio para, por exemplo, tentar entrar no mercado brasileiro. E algumas conseguem. Em Paços de Ferreira há uma empresa que fornece estruturas, como tendas e pisos, e que do evento passou para os jogos olímpicos, onde vai fornecer a maior parte das estruturas e montar a maior tenda do mundo.
E se em áreas como som, luz e vídeo o mercado português “não tem capacidade de resposta” há outras em que os portugueses dominam. O coordenador médico é português em todas as edições e o transporte dos grupos também é coordenado por dois portugueses, Francisco Garcia e Rodrigo Abrantes.
Como Ricardo são jovens e eram mais jovens ainda quando criaram formalmente há quase uma década a VIT, uma empresa especializada no transporte rodoviários de passageiros e carga. Basicamente transporta os artistas e todos os acompanhantes, em Lisboa, no Rio de Janeiro, em Madrid ou em Las Vegas. Já transportaram dezenas de artistas, de Madonna a Bob Dylan, de Diana Krall a Shakira, para perto de 200 festivais de música, só em Portugal.
Um trabalho “totalmente imprevisível”, bastando um atraso num avião para mudar todo o esquema, explica Francisco, acrescentando que pior ainda foi gerir o Rock in Rio no Brasil ou em Madrid, cidades muito grandes e onde os motoristas nem sempre falam inglês.
No Rock in Rio de Lisboa é mais fácil, mas mesmo assim vão ser duas semanas de loucura, diz Rodrigo Abrantes, explicando que vão ter 80 pessoas a trabalhar e que Bruce Springsteen (que atua esta semana) viaja com cerca de 60 pessoas, outras tantas com os Queen e Adam Lambert. E da banda norte-americana Hollywood Vampires (atuam dia 27) já chegou um elemento (do apoio) para ter tempo para comprar uma casa em Portugal.
Francisco e Rodrigo falam do trabalho nos outros países à boleia do Rock in Rio, da experiência em transportar artistas, nem sempre fáceis, e dizem que tem corrido bem. “O relacionamento com as bandas é muito curto, por vezes é fácil perder o controlo porque eles pedem tudo, pedem para ir aqui e ali”, diz Francisco.
E acrescenta Rodrigo: somos o primeiro contacto com o país. Se não tivermos uma imagem profissional vão pensar que todo o evento é assim desorganizado, ficam desconfiados.
Os dois salientam a experiência como o motivo para serem escolhidos pela organização do Rock in Rio, mesmo em festivais no estrangeiro. Francisco resume-a em seis palavras: “Vivemos num backstage há 20 anos”.
@LUSA